sexta-feira, 9 de novembro de 2007

VOZ DA MÃE TERRA

VOZ DA MÃE TERRA (poema de Lúcia Silva, adaptado)

Estou cercada
Estou marcada
Estou presa e não posso mais
Nas mãos de poucos que são tiranos
Que não repartem em porções iguais

Eu a mãe terra de que falas
Eu gero a vida e tudo mais:
Trago comigo o grande grito
A dor que sinto já é demais

Sou mãe do índio
Sou mãe do negro
Sou mãe do branco e quero paz.
Sou a mãe terra e gero a Vida e tudo mais...

Eu sou amada, sou desejada,
Por meus filhos
Por minhas filhas
Pelas plantas e os animais

Escute o apelo, ouça o meu grito
“Ouvi o clamor do meu povo no cerrado”
Com a irmã água sou fonte de Vida
Quero ser livre e gerar mais!

Estou cercada
Estou marcada
Estou presa e não posso mais
Nas mãos de poucos que são tiranos
Que não repartem em porções iguais

Eu sou amada, sou desejada,
Por meus filhos
Por minhas filhas
Pelas plantas e os animais
Sou a mãe terra, e com a irmã água eu gero a Vida e tudo mais...

Bênção de envio as romeiras e romeiros

Como o sol e a chuva descem do céu e para lá não voltam
Sem ter regado a terra tornando-a fecunda e fazendo-a germinar
Dando semente ao semeador e pão a quem tem fome,
Tal ocorre com a experiência vivida nesta 10ª Romaria da terra e da Água!
Regada pela palavra de Deus e da Vida
Ela germina da terra e não retorna sem produzir frutos.
A terra se abre e produz a salvação e faz brotar a justiça para os povos do cerrado!

Queridos Romeiros e Romeiras

Que o Deus da Vida e da Libertação, os abençoe
no caminho de volta para suas casas e comunidades
e continue conduzindo os passos de vocês
rumo a terra prometida hoje e sempre; Amém!

Que o Deus de Jesus Cristo, os abençoe no caminho da paz,
da justiça e da solidariedade com a esperança incansável
de que na luta dos pequenos o projeto do Reino se faz semente; Amém!

Que o Deus Espírito Santo, os abençoe com a coragem ousada
dos profetas e profetizas que ontem e hoje
acreditam e confiam na força libertadora dos
pequenos que com fé se põem em Romaria para
afirmar com toda a força do teu ser que a Terra
e a Água são fontes de Vida! Amém!

A Benção de Deus Trindade, Pai, Filho
e Espírito Santo desça sobre vocês como
tenda que abriga; água, pão e o vinho que alimenta e
mata a sede; Luz e fogo que aquece e ilumina;
Terra que germina e produz frutos de Vida! Amém!

Vá na benção e abençoado e abençoada seja benção para o irmão e a irmã que encontrares no caminho, que contigo acredita e assume a causa da Vida e da libertação! Amém!

Carta da Romaria.

10ª Romaria da Terra e da Água do Piauí.
TERRA É FONTE DE VIDA
“Eu Ouvi O Clamor do Meu povo” no Cerrado.

De Uruçuí ecoa o grito dos povos do Cerrado

“A terra geme e seus filhos desfalecem;...
até os peixes do mar estão desaparecendo.” (Os 4,3).
“Olhei as montanhas: elas tremiam, e todas as colinas se abalavam”.(Jr 4,24).

O clamor do Cerrado:

O bioma do cerrado, a caixa d’água brasileira, no qual o cerrado piauiense é o 4º mais importante do Brasil, com uma área de 11.856.866 (onze milhões oitocentos e cinqüenta e seis mil, oitocentos e sessenta e seis hectares), o que corresponde a cerca de 34% do estado. Aproximadamente 10% desse ecossistema está sendo ocupado e utilizado com projetos agropecuários.
A monocultura da soja, a substituição da cobertura vegetal nativa pela monocultura do eucalipto e a produção de carvão e lenha representam as principais atividades degradadoras do Cerrado piauiense. Se este processo não for interrompido, em menos de 30 anos já não existirá mais o cerrado e conseqüentemente será transformado em áreas desertificada.
Dentre as inúmeras ameaças ao bioma cerrado estão: a expansão da agricultura e da pecuária; a monocultura intensiva de grãos e a pecuária extensiva de baixa tecnologia; o uso de técnicas inadequadas de aproveitamento intensivo dos solos com o uso intensivo de maquinas equipamentos agrícolas; a utilização abusiva de agrotóxicos e fertilizantes; a ocupação desordenada, onde a área desmatada é duas vezes superior a área cultivada; a grilagem de terra;

Agronegócio E A Agricultura Familiar: Dois Pesos Duas Medidas

As pequenas propriedades, até 200 hectares, são responsáveis por 85% da produção de bananas; 78% do feijão; 60% do mamão; 92% da mandioca; 55% do milho; 76% do tomate; 72% do leite; 44% do arroz; enquanto que O Agronegócio produz para o mercado mundial. Produz para quem paga mais, sem se preocupar com a segurança alimentar.
No ano agrícola 2005/2006, o agronegócio recebeu 50 bilhões de reais, enquanto a agricultura familiar recebeu apenas 7 bilhões de reais, ou seja, os agricultores e agricultoras familiares que são muitos e muitas recebem muito pouco e produzem muito e os fazendeiros que são poucos recebem muito e produzem menos.

O Clamor dos Povos do Cerrado

Imersos neste degradante cenário de destruição do bioma do cerrado, onde o agronegócio busca ocultar o caráter concentrador e predador do latifúndio, do capital estrangeiro em nome de uma a produtividade voltada para atender os interesses do capitalismo neoliberal e os interesses da elite econômica e política do estado, os povos do cerrado clamam e propõe:

1. O Fim do Agronegócio, do Trabalho escravo e da degradação ambiental;
2. A criação de programas governamentais de conservação dos recursos naturais;
3. Créditos para a Agricultura familiar diversificada;
4. A Criação de reservas extrativistas nas áreas de populações tradicionais do cerrado e caatinga;
5. Punição para os responsáveis pelo trabalho escravo nas carvoarias e fazendas;
6. Programas de segurança alimentar que potencialize a agricultura familiar;
7. Fortalecimento e ampliação das redes de economia solidária da produção agrícola familiar;
8. Agilidade nos processos de desapropriação para fins de Reforma agrária e da regularização fundiária voltada para os agricultores/as familiares e camponeses/as.
9. Fiscalização do IBAMA em todas as áreas em que os Biomas vem sendo destruídos;
10. Desenvolver programas educacionais voltados para a cultura e políticas de convivência no cerrado, incluindo como disciplina curricular nas escolas públicas;
11. A execução do Programa Nacional de Conservação de uso sustentável do Bioma do Cerrado;
12. Auditoria nos processos de assentamentos através do crédito fundiário;

Somos Romeiros e Romeiras de fé e esperança:

Somos romeiros e romeiras, homens e mulheres do campo e da cidade, caminhamos com um só desejo, de proclamar que terra e as águas são sagradas. A vida da natureza, do cerrado e particularmente dos povos do cerrado, deve estar em primeiro lugar. Queremos construir o projeto de Jesus Cristo:“vida em abundância para todos, todas e tudo”. (cf. Jo 10,10).
A VIDA se manifesta no chão piauiense de múltiplas culturas e de biodiversidades, contrapõe com o sistema neoliberal e nos atribui a missão de promover a dignidade humana e a ecologia. O lucro, em detrimento da pessoa humana, submete os filhos e filhas de Deus a situações de exploração e marginalização. Os pobres e a natureza, em todos os lugares, são excluídos dos projetos de desenvolvimento implementados pelos governantes que agem a serviço da acumulação do capital das grandes empresas e corporações transnacionais. A “vida em semente”, em todo canto, nos impulsiona à ruptura com as estruturas capitalistas. A mãe terra, seus filhos e filhas e a irmã água clamam pela construção de uma sociedade sustentável.
A Reforma Agrária se faz necessária como caminho rumo à justiça social e à preservação ambiental. A concentração de terras, muitas dessas terras públicas e griladas, apropriadas pelos latifundiários e pelo agronegócio, de forma violenta e criminosa, provocaram a destruição da natureza, dádiva divina.
Nossa fé e esperança: “O Deus da vida enxugará toda lágrima dos nossos olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram!” (Ap 21,4). Anunciamos que a luz e a força de Deus brilham em nós, as comunidades se recriam, onde são estabelecidas novas relações entre as pessoas e a natureza, onde emergem e se fortalecem as organizações e lutas populares no campo e na cidade.
Por esta razão é que caminhamos em romaria, na esperança de chegar a terra prometida, carregamos na mochila e no coração a esperança de que um dia no campo e na cidade, todos e todas terão terra, água e pão, terão acesso às políticas públicas de saúde, moradia, educação, lazer, assistência social e soberania alimentar. Eis a glória de Deus brilhando e caminhando conosco! Sigamos firmes romeiros e romeiras, fiéis ao projeto de Jesus Cristo libertador, em irmandade com os e as mártires da caminhada, façamos desta 10ª romaria da Terra e da água o grito firme e profético de que a terra e a água são fontes de vida e precisa ser respeitada, preservada, cuidada e repartida!

Objetivos da 10ª Romaria

OBJETIVOS
1. Ser instrumento de motivação, sensibilização, conscientização e articulação das
forças vivas da igreja e da sociedade, no campo e na cidade
2. Contribuir na educação política, na formação da cidadania, da consciência crítica
sobre a realidade e a necessidade de se lutar pela terra e pela água no Piauí.
3. Ser espaço de profecia: de denuncia e de anúncio sobre a situação dos cerrados piauienses.
4. Celebrar com fé, cultura e arte a caminhada das comunidades, fortalecendo o compromisso, a esperança e o sonho de conquista da “terra sem males”: onde haja “água no copo” e “pão no prato” de todas as pessoas.
5. Apresentar, apoiar e incentivar propostas concretas de políticas públicas que contribua e resolva de vez as problemáticas da fome e da sede e os conflitos de terra e de água no Piauí.
Eis o grito profético da 10ª Romaria da Terra: de anunciar o projeto de Deus, que é vida em abundancia para todos, e denunciar o que é contrário a este projeto, procurando recuperar este santuário, tornando a terra lugar sagrado, onde todos se sintam felizes e possam viver dignamente.
“Eu ouvi o clamor do meu povo” no Cerrado. Este é o lema da 10° Romaria da Terra e da Água do Piauí. Mostrando, de um lado, que o povo dos Cerrados clama em busca da preservação e valorização do seu espaço de vida; de outro, que Deus escuta a voz do seu povo, vem ao seu encontro e caminha junto em busca da libertação e da terra prometida.

História das romarias no Piauí

A Romaria da Terra e da Água já faz parte da história da Igreja no Piauí. São dezoito anos de caminhada do povo de Deus, rumo a terra e água prometida.
As Romarias da Terra e da Água do Piauí passaram a ser contadas a partir de 1988. Antes elas aconteciam como atividades diocesanas. Eis as nove romarias já realizadas no Estado, com seus respectivos temas e locais onde aconteceram:

Primeira: Tema: “Terra, água, justiça, clamor dos pobres”.
Local: Oeiras
Data: 09 de outubro de 1988.

Segunda: Tema: “Terra para plantar, terra para morar”.
Local: Teresina
Data: 02 de setembro de 1989.

Terceira: Tema: “Terra, água, trabalho, dons de Deus, direitos de todos”.
Local: São Raimundo Nonato
Data: 26 de outubro de 1991.

Quarta: Tema: “Repartir a terra e partilhar a vida”.
Local; Barras.
Data: 11 de setembro de 1993.

Quinta: Tema: “Conquistar a terra e construir a cidadania”.
Local: Bom Jesus do Gurguéia
Data: 29 e 30 de julho de 1995.

Sexta: Tema: “Terra concentrada, Vida encarcerada”.
Local: Esperantina
Data: 18 e 19 de outubro de 1997.

Sétima: Tema: “Terra repartida, Canteiro de vida”.
Local: Picos
Data: 25 e 26 de setembro de 1999.

Oitava: Tema: “Terra e Água; Nossa Morada, Nossa Vida”.
Local: União
Data: 27 e 28 de julho de 2002.

Nona: Tema: “Terra e Água, Fontes de Vida”.
Local: São Raimundo Nonato
Data: 31 de julho e 01 agosto de 2004.

Décima: Tema: “Terra é Fonte de Vida”
Lema: “Eu ouvi o clamor do meu povo” no Cerrado.
Local: Uruçuí, diocese Oeiras-Floriano.
Data: 20 e 21 de outubro de 2007.

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Celebração
Acolhida dos Romeiros e Romeiras que vão chegando em caminhada.

Terra e Água são fontes de Vida! Está é a convicção que nos trouxe aqui em uruçuí nesta X Romaria da terra e da água. A terra é um organismo vivo, seu sangue é a água. A água é a fonte da vida em todas as suas formas, vegetal, animal e humana. Hoje cresce a consciência de que ou defendemos o planeta e seus recursos naturais ou pereceremos junto com ele. Daí nossa luta no combate à contaminação das águas, à devastação da natureza e do cerrado por um lado, e o cuidado, o respeito ao equilíbrio ecológico e à preservação dos ecossistemas, por outro.
C.2 Entender a água como sangue da terra, e de todas as formas de vida, é opor-se à lógica do sistema capitalista neoliberal, que a vê unicamente como um bem a ser mercantilizado. A biodiversidade privilegia uma abordagem sistêmica, no sentido de que cada ser vivo é interdependente dos demais. Todos os seres vivos – humano, animal ou vegetal – interagem organicamente. Tudo o que prejudica um, tem conseqüências nocivas para os outros. E inversamente, defender determinada forma de vida é defender a vida no seu conjunto. O planeta inteiro é um grande ser vivo, em que os diversos ecossistemas necessitam uns dos outros para permanecerem igualmente vivos. Portanto defender e preservar a Vida no cerrado é defender e preservar a Vida do planeta.
C1. “Eu Ouvi o clamor do meu povo” no Cerrado, lema que nos dá a certeza de que esta romaria conta com a presença Libertadora de Deus entre nós. O mesmo Deus que viu o sofrimento, ouviu o clamor e desceu para libertar o povo no Egito, também vê nossa dor e sofrimento, ouve o nosso Clamor, no cerrado, caminha e luta com a gente na busca de terra, água, pão, justiça e Liberdade para todos e todas.

Estamos aqui diante da mesa Eucarística para celebrar a História de Deus na História da gente. Na história das tribos primeiras, raiz Ameríndia do povo da terra; da Terra sem Males, dos males da terra. Na História de luta e resistência dos pobres da terra e do cerrado, história de sangue e suor, sofrimento e esperança, permeada de conquistas e martírios; História teimosa de tanta bravura, vencendo os impérios do lucro e da morte. Na História de Deus feito gente na história. Na história da gente tornando-se Deus, na única História da terra e do céu. ( cf. Dom Pedro Casaldaliga , São Félix do Araguaia - MT).


De todos os cantos viemos para louvar o Senhor, Pai de Eterna bondade, Deus vivo e libertador, acolhemos os representantes de nossas dioceses, que com as cores que nos identificam como igreja povo de Deus, no Piauí, trazem a terra e o baner com o tema e o Lema desta X Romaria da terra e da água, bem como os celebrantes.

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Presença dos Bispos das Dioceses:
Picos, Oeiras/Floriano, Campo Maior, Bom Jesus, São Raimundo Nonato.

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

tribuna livre

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007



Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Sala dos mártires

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007


romeiras e romeiro em visita à tenda

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Memorial da romaria, muita animação...

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007


Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Entrada da tendo, sonho de Deus, criação perfeita...

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Tenda da Romaria.

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007

Caravana do Cerrado

Romaria da Terra em Uruçuí 20 e 21-10-2007


Momento da acolhida das caravanas.

SEMINÁRIO
AGRONEGÓCIO
X
TRABALHO ESCRAVO.
DATA: 21 E 22/09/2007
LOCAL:Auditório do STR de Uruçuí

Apresentação:
Em meados da década de 90 a produção da soja tem inicio nas cidades de Uruçuí, Bom Jesus e Santa Filomena formando o chamado “triângulo do cerrado”. Com isso dá-se inicio ao chamado desenvolvimento e com ele a agricultura de exportação, com crédito subsidiado e a inserção de impostos. O chamado agronegócio.
O agronegócio tem utilizado em sua cadeia produtiva a mão de obra escrava na expansão dos campos agrícolas para a monocultura e pecuária de produtos comerciais. Extinguindo qualquer perspectiva de geração de empregos formais no local de origem.
O impacto produzido pelo desmatamento de grandes áreas tem uma relação negativa quando se levam em conta os direitos fundamentais do ser humano, entre eles terra e trabalho digno. Na perspectiva de entender e aprofundar essa discussão o Seminário Trabalho Escravo e Agronegócio será momento de formação da classe trabalhadora e de educadores populares para o fortalecimento de ações de combate ao trabalho escravo e a degradação da natureza