sexta-feira, 6 de julho de 2012

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Os impactos sociais e ambientais causados pelo desenvolvimento não sustentável estão no centro da agenda mundial. Ao mesmo tempo, o Brasil deve ocupar o posto de quinta maior economia do mundo nos próximos cinco anos. Parte significativa desse salto deve acontecer por conta da produção, processamento e comercialização de matérias-primas e alimentos, que estão aumentando em ritmo frenético para suprir a demanda interna e externa. O problema é que ser o "celeiro do mundo" tem o seu lado ruim: na perspectiva de alcançar o futuro, adotam-se práticas do passado.
Nos últimos 16 anos, mais de 41 mil pessoas foram libertadas do trabalho escravo em fazendas, carvoarias, oficinas de costura e canteiros de obras espalhados pelo país. Nesse mesmo período, lideranças sociais foram assassinadas em conflitos agrários; extensas áreas da Amazônia, Cerrado e Pantanal foram desmatados ilegalmente e indígenas acabaram despejados de suas terras para dar lugar a lavouras ou hidrelétricas. O progresso veio, mas nem sempre trouxe felicidade a todos.
E se por um lado isso traz dor e sofrimento a milhares de pessoas, por outro mancha de forma indelével a imagem do país e de seus produtos. Em um contexto de acirrada competição global, em que barreiras não tarifárias são erguidas por qualquer motivo, os repetidos casos de trabalho infantil, tráfico de meninas ou contaminação por agrotóxicos podem e serão usados como justificativa.
Para que esses casos de violações aos direitos cessem é necessário, antes de mais nada, informação confiável e de qualidade. Dados que mostrem onde o problema está, análises que desvendem sua natureza, metodologias que indiquem como resolvê-lo.
A Repórter Brasil é reconhecida como a mais importante fonte de informação sobre trabalho escravo no Brasil, dentro e fora do país. Suas reportagens, pesquisas e metodologia educacional são usadas pelo poder público, o setor empresarial e a sociedade civil como instrumentos diários de trabalho. Sem elas, seria impossível combater esse crime contra os direitos humanos, sem elas o Brasil não seria considerado o principal exemplo mundial no combate ao problema.
A Repórter Brasil caminha para se tornar a principal fonte de análises e informações sobre os conflitos no campo e as violações aos direitos sociais e ambientais dos povos e trabalhadores rurais. Com isso, as lideranças sociais, políticas e econômicas dos três setores contarão, cada vez mais, com ferramentas para trabalharem por um desenvolvimento feito de forma justa e democrática.
O que os agrocombustíveis precisam ter para garantir que sejam realmente limpos? É possível identificar as mercadorias que causaram graves impactos sociais e ambientais em sua produção e retirá-las do mercado? Como garantir que a educação de crianças, jovens e adultos os preparem para os desafios que enfrentarão na zona rural da quinta maior economia do mundo?
A Repórter Brasil está, há 10 anos, trabalhando para fornecer as respostas para essas perguntas.
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Leonardo Sakamoto
Diretor da Repórter Brasil

Estudo denuncia como indústria de ferro e aço lucra com escravidão e desmatamento

Relatório aponta que 60% do carvão vegetal utilizado vem de matas nativas e não de reflorestamento. Exploração de trabalhadores marca produção nacional 

Por Repórter Brasil
A produção de ferro-gusa e aço no Brasil tem em sua base problemas graves que precisam de soluções urgentes e mudanças drásticas. É o que aponta o estudo "Combate à devastação ambiental e ao trabalho escravo na produção do ferro e do aço", feito pelas organizações Repórter Brasil e Papel Social, a pedido de WWF-Brasil, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Rede Nossa São Paulo e Fundación Avina. O documento, resultado de mais de dois anos de pesquisas, foi apresentado terça-feira, dia 12, durante a Conferência Ethos Internacional, em São Paulo (SP). Clique aqui ou na imagem abaixo para obter uma versão digital em PDF

 
Com exemplos detalhados e bem documentados, o estudo apresenta problemas recorrentes no setor com especial atenção para o desmatamento e os impactos provocados na Amazônia, Pantanal e Cerrado, bem como para os casos de flagrantes de escravidão, que afetam principalmente trabalhadores pobres sem alternativas de emprego e renda.
Principais polos de produção e
consumo de carvão ilegaldo país
Pesquisas de campo realizadas em Brasília (DF), Montes Claros (MG), Rio Pardo de Minas (MG), Várzea da Palma (MG), Sete Lagoas (MG), Belo Horizonte (MG), Conceição do Pará (MG), Campo Grande (MS), Aquidauna (MS), Marabá (PA), São Luís (MA), e Imperatriz (MA) permitiram não só traçar e demonstrar a ligação direta entre algumas das principais fabricantes de ferro e aço do país com a produção de carvão clandestino, como também detalhar mecanismos comumente utilizados para driblar a fiscalização.
Um exemplo é a lavagem de carvão, quando unidades produtoras ilegais regularizam o produto com documentos falsos ou apresentando a produção como se fosse de uma unidade regularizada. O estudo também trata de reflorestamento de fachada, uso de terras públicas, contrabando de carvão do Paraguai e de como o desmatamento e a exploração do homem têm recebido apoio e investimentos públicos. 
Foram identificados grupos que usaram carvão vegetal de fontes que flagradas produzindo de forma ilegal. Entre eles, Libra Ligas, Rotavi, Sinobrás, Sidepar, Cosipar, Gusa Nordeste, Brasil Verde, Simasul, Vetorial, Grupo Itaminas, entre outros. Essas empresas, enquanto processavam esse carvão, estiveram conectadas comercialmente a grandes companhias como ArcelorMittal, Cosipa, Gerdau, Mahle, Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen.