quarta-feira, 17 de abril de 2013

A Juventude e a Semana da Cidadania.

A Semana da Cidadania (SdC) ocorre todos os anos, desde 1996 durante os dias 14 a 21 de abril e enfatiza a dimensão sociopolítica como parte do processo de formação integral promovido pelas Pastorais da Juventude do Brasil (PJ, PJE, PJMP e PJR), juntamente com os Centros e Institutos de Juventude, sendo uma de suas três Atividades Permanentes e atividade oficial da Igreja no Brasil.
É uma ação do discipulado missionário de milhares de grupos de jovens e militantes organizados como Igreja nas comunidades, nas escolas, nos meios populares e nas comunidades rurais. É o exercício do anúncio evangélico de vida plena; anúncio engajado na realidade concreta dos sujeitos jovens, comprometido com a reparação das injustiças e com a construção da igualdade social, como sinais do Reino de Deus.

A Semana da Cidadania constitui parte de nosso compromisso apostólico de anunciar e construir vida plena. É um espaço para a convocação de novos grupos de jovens e para despertar para a vida comunitária e é nossa oportunidade, como jovens, de compor a história da construção dos nossos direitos.
Com a proposta de lutar pela vida da juventude e enfatizar a necessidade deste diálogo, é que neste ano de 2013 a Semana da Cidadania abordará a temática Juventude: vidas pela vida” inspirada pelo lema Pastorais da Juventude contra a redução da maioridade penal”.
A defesa da vida da juventude sempre foi pauta dos trabalhos e ações desenvolvidas pelas Pastorais da Juventude, por isso, neste ano em que a Campanha da Fraternidade trabalhou como tema: Fraternidade e Juventude queremos evidenciar ainda mais a defesa da vida, dizendo não à redução da maioridade penal, por entendermos que esta mudança na lei permitirá que mais vidas sejam comprometidas em sua formação integral.
A sociedade, por conta do aumento da participação de adolescentes e jovens em delitos e crimes noticiados diariamente acaba por acreditar que esta proposta responderá a este problema social. Porém, entendemos que somente com a efetivação das políticas públicas, melhorias no acesso à educação, à saúde, ao emprego, ao lazer, etc, permitirão a mudança tão sonhada nos índices de criminalidade que envolve a juventude. Seguindo ao Cristo Jovem, que não temeu os doutores da Lei, também nós, jovens das Pastorais da Juventude, não tememos em dizer que somos contra a redução da maioridade penal.

Materiais
Para fazer download dos materiais da Semana da Cidadania, basta acesso os links abaixo:
·         Subsidio: http://migre.me/dZBGW
·         Cartaz: http://migre.me/dZBJy
·         Banner: http://migre.me/dZBKw
Vamos divulgar e fazer a Semana da Cidadania acontecer em todos os cantos de nosso país!

A concentração de terra estimula a violência e a impunidade.

A violência no campo continua por causa da histórica e escandalosa concentração de terra, do modelo de desenvolvimento que privilegia o agronegócio, e da impunidade”, diz Frei Henri B. des Roziers em entrevista concedida por e-mail. Após acompanhar o julgamento dos acusados de assassinato de Maria e José Claudio do Espírito Santo, ele conversou com a IHU On-Line e disse que o “julgamento é escandaloso e absurdo do ponto de vista jurídico: condena Lindonjonson como executor, que não tinha problema com Zé Claudio e Maria do Espírito Santo, enquanto seu irmão Zé Rodrigues, que tinha grande interesse em fazer desaparecer os dois, como mostram as provas juntadas no processo e as declarações das testemunhas no júri, foi absolvido”. E dispara: “é um julgamento contraditório. A parcialidade do juiz em favor dos acusados foi evidente durante o julgamento. É preocupante, mas bem significativo, que existe ainda juiz como o Dr. Murilo Lemos Simão, no Pará”.

Para o advogado da Comissão Pastora da Terra – CPT na região de Xinguara, Pará, esse julgamento não representa a diminuição da impunidade e da violência na região. “A condenação pesada dos executores, mais de 40 anos, pode fazer elevar o preço das encomendas. Mas, do outro lado, a absolvição do mandante, para todos aqueles, madeireiros, agropecuaristas e outros que têm muito interesse em destruir a floresta para se apropriar de suas riquezas, é um estímulo a continuar a eliminar, sem muito risco, os ambientalistas que defendem a floresta”, lamenta.

Frei Henri Burin des Roziers
(foto abaixo) é frade dominicano de origem francesa e naturalizado brasileiro. Por seu serviço em defesa dos trabalhadores rurais, encabeça a lista de religiosos ameaçados de morte. Recebeu prêmios no Brasil e no exterior pela sua atuação em defesa dos direitos humanos.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O senhor atuou durante muitos anos como advogado da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Que avaliação faz dos conflitos nas regiões Norte e Nordeste? Eles aumentaram na última década?
Frei Henri B. des Roziers – Nessa última década, os conflitos aumentaram de maneira geral no Norte e no Nordeste. Na década de 1990, como também no primeiro mandato do governo Lula, de 2002 a 2006, as ocupações pelos trabalhadores rurais sem terra de várias organizações, MST, Fetraf, sindicatos, de fazendas improdutivas ou griladas, aumentaram muito e, consequentemente, os conflitos de terra também. A partir de 2007 diminuíram muito as desapropriações, mas não os conflitos. No Pará, os conflitos cresceram muito em alguns lugares como em Rondônia. O número de trabalhadores rurais assassinados aí passou de dois em 2011 para nove em 2012.

IHU On-Line – Como o senhor avalia a conclusão do processo referente ao assassinato de Maria e José Claudio do Espírito Santo, que condenou os autores do crime, mas absolveu o suposto mandante? Qual o significado desta absolvição e das duas condenações?

Frei Henri B. des Roziers
– Esse julgamento é escandaloso e absurdo do ponto de vista jurídico: condena Lindonjonson como executor, que não tinha problema com Zé Claudio e Maria do Espírito Santo, enquanto seu irmão Zé Rodrigues, que tinha grande interesse em fazer desaparecer os dois, como mostram as provas levantadas no processo e as declarações das testemunhas no júri, foi absolvido; é um julgamento contraditório. A parcialidade do juiz em favor dos acusados foi evidente durante o julgamento. É preocupante, mas bem significativo, que existe ainda juiz como o Dr. Murilo Lemos Simão, no Pará.

As consequências desse julgamento são muito graves:

Primeiramente, a absolvição do mandante, Zé Rodrigues, é extremamente perigosa para Laisa, irmã de Maria do Espírito Santo e seu marido Zé Rondon, que deram, cada um, testemunho forte contra Zé Rodrigues, acusado de ser mandante do duplo assassinato, e isso na presença dele. Ora, Zé Rodrigues mora no assentamento perto deles! O risco aumentou muito.

E em segundo lugar, esse julgamento não significa diminuição da impunidade e da violência. A condenação pesada dos executores, mais de 40 anos, pode fazer elevar o preço das encomendas. Mas, do outro lado, a absolvição do mandante, para todos aqueles, madeireiros, agropecuaristas e outros que têm muito interesse em destruir a floresta para se apropriar de suas riquezas, é um estímulo a continuar a eliminar, sem muito risco, os ambientalistas que defendem a floresta e prejudicam seus interesses como também aqueles que defendem sua terra. As provas contra os mandantes serão agora, depois desse julgamento, caso não seja anulado, muito mais difíceis: terão que ser provas mais fortes contra os executores.
Portanto, esse julgamento, com a condenação pesada dos executores, não significa redução da impunidade e da violência. Ao contrário, com a absolvição do mandante, reforça a impunidade e pode provocar mais violência. Esse episódio coloca em perigo todos os defensores da natureza e do meio ambiente, ainda mais que a eliminação desses defensores interessa a grupos poderosos do latifúndio, do agronegócio e mineradoras. A história trágica de Chico Mendes e dos defensores da floresta continua. Parece que 27 anos depois de seu assassinato nada mudou!

IHU On-Line – O senhor declarou que a absolvição do mandante representa uma “gravíssima ameaça” para a vida de Laisa Santos Sampaio, irmã de Maria do Espírito Santo. Qual a atual situação de Laisa? Ela sofre ameaças de morte?

Frei Henri B. des Roziers
Laisa ficou extremamente preocupada pela absolvição de Zé Rodrigues e está com muito medo. Logo depois do resultado, viajou para Brasília. Não se sabe se voltará para seu lote no assentamento. Seu marido, Zé Rondon, voltou para lá no dia seguinte, pois tinha que extrair urgentemente óleo de frutas da floresta. Não sabem se vão poder ficar no assentamento devido ao perigo. É certo que Zé Rodrigues vai, pelo menos, continuar a intimidá-los para que vão embora do assentamento, pois é isso o que ele quer. E se não saírem?

IHU On-Line – Diante desse e de outros casos em que militantes da CPT foram assassinados ou ameaçados de morte, como fica a atuação de militantes, camponeses e agricultores nela?

Frei Henri B. des Roziers
– Aumentam os riscos. A CPT cobra investigações rigorosas das ameaças; ela tem alertado as autoridades, divulgando os nomes dos ameaçados e exigindo sua inserção no Programa de Proteção de Defensores Humanos. Porém, isso não tem surtido muito sucesso.

IHU On-Line – É possível estimar quantos ativistas estão ameaçados hoje?

Frei Henri B. des Roziers
– Só no ano 2012, 46 lideranças de trabalhadores rurais foram ameaçadas no sul e sudeste do Pará.

IHU On-Line – Como o governo tem se posicionado diante desses crimes e ameaças de morte?

Frei Henri B. des Roziers
– As autoridades, as delegacias dos conflitos agrários, o Ministério Público e a Secretaria de Direitos Humanos foram numerosas vezes alertadas e informadas sobre as ameaças contra Zé Claudio e Maria do Espírito Santo que, apesar disso, foram assassinados. Nos anos entre 2003-2005 a Irmã Dorothy também foi assassinada, apesar de que muitas ameaças contra ela tinham sido denunciadas às autoridades. Em 2012 e 2013 todas as autoridades do Pará e da federação sabiam (e sabem) que Laisa e seu marido Zé Rondon eram (e ainda estão sendo) ameaçados e, até hoje, eles estão praticamente sem proteção.

IHU On-Line – Quais são as razões que fazem com que a violência no campo ainda seja uma realidade no país? Trata-se somente de uma disputa pela terra ou tem outras questões envolvidas?

Frei Henri B. des Roziers
– A violência no campo continua no país por causa da histórica e escandalosa  concentração de terra, do modelo de desenvolvimento que privilegia o agronegócio e da impunidade. A violência no campo é muito mais do que uma disputa pela terra, é também uma disputa pela defesa da natureza e do meio ambiente contra o latifúndio, o agronegócio e as mineradoras. Chico Mendes, Irmã Dorothy, Zé Claudio, Maria do Espírito Santo são os mártires da luta pela preservação da floresta, da natureza, do meio ambiente, da ecologia.
Nota: A fonte da imagem acima que ilustra a entrevista é http://bit.ly/16ZJF0M