Os Bispos do Regional Nordeste VI se reuniram na manhã de
segunda, 07.05, com o Governador do Estado, Wilson Martins, para tratar de
questões relativas à seca que atinge o território piauiense.
A reunião teve início às 7h30, e está sendo realizada no
Palácio Episcopal de Teresina. Na oportunidade, os Bispos do Piauí
entregaram uma carta, que é destinada aos governantes e população do
estado.
A reunião tem como finalidade apresentar a realidade
encontrada junto às comunidades de cada diocese, apontando as
dificuldades enfrentadas, principalmente pelas famílias mais carentes,
que sobrevivem da produção agrícola e que já não contam com água para o
consumo humano e realização de outras atividades.
De acordo com a Secom, 93 municípios já decretaram estado
de emergência no Piauí. Para discutir medidas de enfrentamento a esta
realidade a Diocese de Picos reúne os gestores municipais, autoridades, o
clero e representantes das paróquias na próxima quarta-feira, 09, no
Fórum Diocesano sobre a Seca, que será realizado no Centro de
Treinamento Diocesano- CTD.
Confira a carta na íntegra:
NOTA DOS BISPOS DA CNBB - REGIONAL NORDESTE IV AOS GOVERNANTES E AO POVO PIAUIENSE
“Eu vi a opressão de meu povo no Egito diante dos
opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para
libertá-lo das mãos dos egípcios.” (Ex 3, 8).
01. O povo do sertão piauiense, sobretudo do semiárido,
depara-se, novamente frente à prolongada estiagem que está ocasionando
uma rigorosa seca. Muitos municípios atingidos pelo flagelo já
decretaram estado de calamidade pública. A água potável, que é
fundamental para a sobrevivência humana, já está faltando em muitos
recantos do nosso querido Piauí.
02. Ao contemplar as marcas do sofrimento humano no rosto
do sertanejo, vítima da seca, percebe-se a frontal negação de seus
direitos humanos mais fundamentais, desestruturando-o humana e
espiritualmente.
03. As consequências decorrentes da seca são muito
amplas, entre as quais se podem destacar: (a) Desarticulação e
desintegração da família, provocando uma migração forçada de pais que,
desesperados, abandonam esposas e filhos e partem, muitas vezes, para
nunca mais voltar; (b) portas se abrem com facilidade para o
inescrupuloso tráfico humano e o abominável trabalho escravo; (c)
comprometimento dos valores éticos, permitindo o uso da situação de
extrema vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, limitando o
livre exercício da cidadania, facilitando a compra de votos e a
corrupção eleitoral; (d) agravamento da situação econômica relegando
muitas famílias à extrema pobreza, expondo-as a situações degradantes,
em que desfiguradas em sua humanidade, muitos não são mais reconhecidos
sequer como pessoas humanas portadoras de direitos e dignidade.
04. Diante de problemas cruciais que atingem tantas
famílias, levanta-se o questionamento sobre o verdadeiro papel do
Estado, dos Governos e da Sociedade organizada como um todo. Se de um
lado, os governos são escolhidos e existem para gerenciar e cuidar das
questões do Estado; por outro lado a razão de ser do Estado é colocar-se
a serviço do povo, especialmente dos mais necessitados. Por isso, não é
mais admissível que se repita novamente o que, em outros tempos, se
denominou indústria da seca. Vivendo em pleno início da segunda década
do terceiro milênio da era cristã, época em que predominam a ciência e
tecnologia, a informática, cibernética e robótica, não mais se pode
admitir que milhares de pessoas não tenham acesso às condições básicas
para viverem dignamente, tais como dispor de água de qualidade para
saciar a sede e garantia de alimentos para saciar a fome.
05. As ações de políticas públicas comumente adotadas
frente ao flagelo da seca têm sido a prestação de socorro imediato às
vítimas com a entrega de cestas básicas de alimentos e de águas em
carros pipas e, em longo prazo, construção de cisternas e de pequenos e
grandes açudes. Embora tais medidas sejam necessárias, elas não são
suficientes para se conviver com o semiárido. É hora de o Governo
escutar a sociedade organizada e os que são atingidos pelo flagelo das
prolongadas estiagens, a fim de se buscar soluções adequadas e
duradouras para o problema. A esse respeito, convém lembrar o que, certa
vez, declarou Betinho: “A luta contra a miséria e a forme tem dupla
dimensão: a emergencial e a estrutural. A articulação entre as duas
dimensões é complexa e cheia de astúcias. Atuar no emergencial sem
considerar o estrutural é contribuir para perpetuar a miséria. Propor o
estrutural sem atuar no emergencial é praticar o cinismo de curto prazo
em nome da filantropia de longo prazo.”
06. Diante da grave situação das vítimas da seca, os
bispos do Piauí lançam um apelo aos que têm responsabilidade de governo,
em todos os níveis do Estado, para que esforços sejam realizados em
vista da superação da pobreza e da miséria no semiárido, que começa com a
garantia de água de qualidade para o consumo humano; garantia de
alimentação adequada para as famílias; geração de trabalho e renda com a
implantação de novas tecnologias adaptadas à realidade climática da
região e uma educação contextualizada, viabilizando as potencialidades
humanas, naturais e culturais da região.
07. Frente ao atual flagelo, propomos que seja criada
imediatamente a “Bolsa Alimentação” no valor de R$ 300,00 (trezentos
reais) mensais, num período de 06 meses, para cada família atingida pela
seca do ano de 2012 e adequada fiscalização para que os recursos sejam
aplicados com absoluta transparência e distribuídos sem discriminação
partidária.
08. Suplicamos que o Espírito Santo de Deus ilumine a
mente e o coração dos governantes e dos que têm responsabilidade
política e social com o nosso povo para que nos unamos e empreendamos
ações em vista da superação dessa situação.
Assinam os bispos da CNBB - Regional Nordeste IV:
Dom Alfredo Schaffler
Presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Parnaíba
Dom Juarez Souza da Silva
Vice-presidente da CNBB - Regional Nordeste IV e bispo de Oeiras
Dom Plínio José Luz da Silva
Secretário da CNBB - Regional Nordeste IV e Bispo de Picos
Dom Jacinto de Brito Furtado Sobrinho
Arcebispo de Teresina
Dom João Santos Cardoso
Bispo de São Raimundo Nonato
Dom Eduardo Zielski
Bispo de Campo Maior
Dom Valdemir Ferreira dos Santos
Bispo de Floriano
Dom Ramon Carrozas
Bispo de Bom Jesus
Dom Augusto Alves da Rocha
Bispo Emérito de Floriano
Dom Miguel Fenelon Câmara Filho
Arcebispo Emérito de Teresina
Dom Celso José Pinto da Silva
Arcebispo Emérito de Teresina