Na audiência concedida ao Dicastério para os Migrantes, o Papa denuncia
vigorosamente o tráfico de seres humanos e convida cada um a dar a própria
contribuição para as pessoas erradicadas à força.
Salvatore Cernuzio
ROMA, 24 de Maio de 2013 (Zenit.org) - "Uma atividade ignóbil, uma
vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas". Não existem
outras palavras para descrever o fenômeno do “tráfico de pessoas”, segundo o
Papa Francisco. O Pontífice não mede palavras à denúncia desta chaga que
destrói a “carne de Cristo” e, na Audiência de hoje aos participantes da
Plenária do Pontifício Conselho da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes,
afirma: “Exploradores e clientes em todos os níveis deveriam fazer um sério
exame de consciência diante de si mesmos e diante de Deus”. Ao mesmo tempo,
renova o forte apelo da Igreja “para que sejam sempre protegidas a dignidade e
a centralidade de toda pessoa, no respeito dos direitos fundamentais”.
A reflexão cheia de indignação do Santo Padre parte da análise do
Documento do Dicastério, que “chama a atenção sobre milhões de refugiados,
emigrados e apátridas, tocando também a chaga do tráfico de seres humanos, que
sempre cada vez mais envolvem crianças, nas piores formas de exploração e
recrutados até mesmo nos conflitos armados”.
"Em um mundo onde se fala muito de direitos - diz o Papa - quantas
vezes é realmente pisada à dignidade humana!" O dinheiro, no entanto,
parece ser o único a ter direitos, porque ele está no controle do mundo de
hoje. "Nós - observa com tristeza - vivemos em um mundo, em uma cultura
onde impera o fetichismo do dinheiro".
Portanto, Francisco incentiva o Pontifício Conselho "a continuar no
caminho do serviço aos irmãos mais pobres e marginalizados", recordando as
palavras de Paulo VI no encerramento do Concílio Vaticano II (8 de dezembro de
1965): "Para a Igreja Católica ninguém é um estranho, ninguém é excluído,
ninguém está longe".
"De fato somos uma só família humana” comenta o sucessor de Pedro,
e “a atenção materna” da Igreja se manifesta “com especial ternura e
proximidade com as pessoas forçadas a fugir do próprio país e vive entre
desarraigamento e integração”. “A compaixão cristã – acrescenta – este ‘sofrer
com’, se expressa antes de mais nada no compromisso de conhecer os eventos que
levam a deixar à força a Pátria e, onde é necessário, no dar voz a quem não
consegue fazer que se escute o grito de dor e de opressão”.
Neste sentido, o Departamento de Migrantes desenvolve "uma tarefa
importante também no sensibilizar as Comunidades cristãs com os irmãos marcados
pelas feridas que marcam a sua existência”. Feridas assim tão grandes que não
podem ser nem sequer listadas. O Papa nomeia algumas delas: "Violência,
abusos de poder, distância da família, eventos traumáticos, fuga da casa,
incerteza sobre o futuro em campos de refugiados". Todos os elementos, diz
ele, "que desumanizam e devem levar cada cristão e toda a comunidade a uma
atenção concreta”.
No entanto, ainda no meio da podridão existe algo que brilha: é “a luz
da esperança” que o Sucessor de Pedro convida “a captar nos olhos e no coração
dos refugiados e das pessoas erradicas à força”. Esta esperança, “se expressa
nas expectativas pelo futuro, na vontade de relações de amizade, no desejo de
participar da sociedade que as acolhe, também por meio do aprendizado da
língua, do acesso ao trabalho e a educação para as crianças”. Confessa
Bergoglio: “Admiro a coragem de quem espera poder gradualmente retomar a vida
normal na esperança de que a alegria e o amor voltem a alegrar a sua
existência”.
Todos, portanto, "podemos e devemos alimentar essa esperança!"
Especialmente aqueles que têm o poder de fazê-lo: governadores, legisladores, a
Comunidade Internacional. O Papa exorta-os de fato a colocar em ato
“iniciativas e novas abordagens” para tutelar a dignidade dos migrantes diante
destas “formas modernas de perseguição, opressão e escravidão”.
"São pessoas humanas", insiste; seres humanos "que
precisam de urgente ajuda, mas também e principalmente de compreensão e de
bondade". A sua condição, portanto, "não pode deixar
indiferentes". Um apelo, portanto, vai também a cada Pastor e Comunidade
cristã, que – diz Bergoglio – devem ter especial cuidado do “caminho de fé dos
cristãos refugiados e erradicados à força”, por meio de uma pastoral “que
respeite as suas tradições e os acompanhe a uma harmoniosa integração nas
realidades eclesiais em que vivem”.
O Papa conclui: "Queridos amigos, não se esqueçam da carne de
Cristo que está na carne dos refugiados". Em virtude disso, torna-se
urgente a responsabilidade do Dicastério de “orientar para novas formas de
corresponsabilidade todos os Organismos comprometidos no
campo das migrações forçadas”, a fim de “promover respostas concretas de proximidade
e de acompanhamento das pessoas, tendo em conta as diversas situações locais”.
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