O apoio do governo e a pressão de
organizações da sociedade civil não foram suficientes para garantir a
votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que permite a
expropriação de terras nas quais seja constatado o uso de mão de obra
escrava. Após reunião de líderes, os deputados decidiram adiar a
votação, prevista para a noite deste terça-feira (8).
Os
deputados da bancada ruralista consideraram que o texto da PEC é
genérico e não caracteriza claramente o que significam trabalho análogo à
escravidão e trabalho degradante, nem como será feita a expropriação
das terras.
Para o líder do PR, deputado
Lincoln Portela (MG), essas lacunas podem propiciar abusos de autoridade
no momento da fiscalização. “Há um acordo para que a PEC seja votada,
esta é uma questão definitiva. Porém, o que preocupa alguns
parlamentares é a questão da subjetividade do texto. Nós teremos
dificuldade de saber como será a atuação do fiscal, se ele poderá fazer a
expropriação de qualquer maneira”, explicou o líder.
Como
a Câmara não pode mais alterar o texto, já que a PEC está pronta para
ser votada em segundo turno, os líderes decidiram procurar as bancadas
no Senado para tentar um acordo. Como o texto irá para o Senado após a
votação na Câmara, os líderes querem que os senadores incluam no texto
os esclarecimentos necessários. O presidente da Câmara, deputado Marco
Maia (PT-RS), deverá procurar a presidenta em exercício do Senado,
senadora Marta Suplicy (PT-SP), para tratar do assunto.
O
líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP),
concordou que há pontos não esclarecidos no texto. É o caso, por
exemplo, de flagrantes de trabalho escravo em terras arrendadas ou de
imóveis urbanos alugados, cujos proprietários que não têm relação direta
com o crime e, mesmo assim, estão sujeitos a perder os terrenos.
“Há
algumas grandes bancadas que concordam com esse argumento de que é
necessária uma legislação infraconstitucional. É melhor a gente
respeitar as opiniões porque o pior seria não conseguirmos os 308 votos
necessários para a aprovação da matéria”, argumentou Chinaglia. Ele
negou que o recuo dos governistas, que apoiaram o adiamento da votação
da PEC do Trabalho Escravo, tenha relação com a derrota sofrida pelo
governo para os ruralistas na votação do Código Florestal.
O
líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE), disse que o
partido de oposição não criará obstáculos para a votação da matéria
quando os líderes entrarem em acordo. “O PSDB está pronto, qualquer que
seja o entendimento, nós vamos votar”.
A PEC
também autoriza a expropriação de terras nas quais for constatado o
cultivo de maconha ou plantas usadas como insumo para fabricação de
drogas ilícitas. Depois de votada na Câmara, a PEC seguirá para o
Senado. Se receber as alterações que os deputados querem, a matéria
voltará para última análise da Câmara.
Fonte: Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário