Contribuir na formação das trabalhadoras e trabalhadores do campo, na luta pela terra, água, direitos, justiça, igualdade e solidariedade. NA LUTA PELA TERRA E PELA VIDA!
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Mais uma morte de trabalhador.
Valdemar era sócio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e coordenou por vários anos um grupo de famílias que ocupava a fazenda Estrela da Manhã, no município de Marabá. Como a fazenda não foi desapropriada, ele voltou a morar na capital, onde ajudou a organizar uma ocupação urbana na Folha 06, no bairro Nova Marabá, onde residia.
Há mais de um ano, ele passou a coordenar as famílias que ocupavam a Fazenda Califórnia, no município de Jacundá. No fim do ano passado as famílias foram despejadas, mas Valdemar ameaçava uma reocupação do local. De acordo com informações obtidas pela CPT, a Fazenda Califórnia é envolvida com a atividade pecuária e de carvoaria. A CPT desconfia de que pistoleiros teriam sido contratados pelo fazendeiro para impedir uma nova ocupação do imóvel.
Até o fim da tarde de hoje, a polícia não tinha qualquer informação sobre a autoria do crime. Depois do assassinato dos extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo, esse é o quarto trabalhador assassinado, somente no Pará, do mês de maio deste ano até agora. Há fortes indícios de que os crimes tenham sido cometidos por motivação agrária, ou seja, disputa pela terra. Nenhum suspeito de envolvimento nos seis crimes foi preso até o momento.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Reações ao trabalho escravo na confecção de roupas Zara
Segundo o Ministério do Trabalho, três fornecedores foram alvos da investigação, dois na capital e um em Americana, no interior paulista.
Na capital, as duas oficinas eram de bolivianos, mas de responsabilidade da griffe. Ao todo, as duas tinham 15 funcionários. As duas oficinas foram fechadas. Os trabalhadores receberam indenização conjunta de R$ 140 mil.
Uma adolescente de 14 anos chegou a ser encontrada trabalhando em uma das oficinas — ela contou que só podia sair do local, onde também morava, com autorização dos chefes.
ESTRAGO NAS REDES SOCIAIS
As redes sociais viraram o canal de escape de milhares de consumidores brasileiros indignados com as denúncias de trabalho escravo contra confecções que prestavam serviço à Zara.
No Twitter, entre os dez assuntos mais comentados do Brasil, dois dizem respeito ao assunto: Zara e trabalho escravo.
“Me arrependo desde já por ter feito compras na #Zara, que escraviza bolivianos”, postou um internauta pelo Twitter.
“Todo mundo comprando calça Zara achando que é importada e a calça é feita por escravos bolivianos”, postou outra internauta.
Além do Twitter, uma grande de quantidade de internautas está manifestando sua opinião no perfil oficial da marca no Facebook.
Na última postagem da marca, que exibe um vídeo da coleção de inverno, a maior parte dos comentários é de brasileiros exibindo descontentamento com a acusação.
“Vergonha mundial. Fora do Brasil”, diz um dos comentários no perfil oficial da Zara no Facebook.
Até espanhóis mostraram indignação com a Zara — a Inditex, controladora da marca, é espanhola.
OUTRO LADO
A Inditex, controladora espanhola da Zara, reconheceu a irregularidade nos fornecedores.
A rede afirmou que, ao ter conhecimento dos fatos, exigiu que o fornecedor responsável pela terceirização não autorizada regularizasse a situação “imediatamente”.
A empresa também disse que conta com cerca de 50 fornecedores fixos, que somam mais de 7.000 colaboradores, e que possui um sistema de auditoria anual das condições de trabalho em seus fornecedores.
Leia mais em: http://www.materiaincognita.com.br/reacoes-ao-trabalho-escravo-na-confeccao-de-roupas-zara/#ixzz1VjHjmher
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Um jardim de sonhos e lutas para quase 100 mil margaridas
Por Renato Santana
Cimi, de Brasília (DF)
Se o capitalismo condena a humanidade ao que de pior ela pode produzir para o conjunto da sociedade, as mulheres são as que mais sofrem com as consequências. Sobretudo as negras, as pobres, as indígenas, as camponesas, as mães solteiras, as lésbicas, as que já abortaram.
A covardia da organização social patriarcal há séculos as condena ao racismo, além de atos de violência machista que partem dos homens e das relações do capital em suas mais variadas formas – com assassinatos, espancamentos, estupros, violações, liberdade subjugada.
Mas a resistência surge na mesma medida e nesta terça (16) e quarta-feira (17) cerca de 100 mil mulheres camponesas, trabalhadoras urbanas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pescadoras e feministas estiveram em Brasília (DF) para a Marcha das Margaridas.
Enquanto a ponta da marcha, que acontece a cada quatro anos, chegava às portas do Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios (DF), o final dela ainda estava no Parque da Cidade – que durante 48 horas se tornou a Cidade das Margaridas.
As mulheres tomaram de assalto as principais artérias do centro de poder do país por "Desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade”, mote da marcha. Histórias de lutas, regadas a lágrimas e risos, compuseram a grande marcha.
A organização da marcha foi da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Margarida ressurgida
A marcha traz a memória de mulheres que morreram na defesa de seus direitos numa luta antissistêmica. Entre elas, Margarida Alves; durante 12 anos ela presidiu o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, estado da Paraíba.
Quebrou a lógica de que apenas homens podiam ocupar tal posto – ainda muito presente no movimento sindical brasileiro. Margarida travou intensa luta contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, contra o analfabetismo e pela reforma agrária.
Acabou brutalmente assassinada pelos usineiros da Paraíba em 12 de agosto de 1983. Maria da Soledade presidiu o mesmo sindicato três anos depois, em 1986. Militou ao lado de Margarida e hoje se emociona ao se dizer margarida ao lado de tantas outras.
"Com essa marcha e nesse tempo todo de luta tivemos grandes conquistas, mas tem muito ainda para melhorar”, diz. Maria enfrentou o machismo e a violência não só como sindicalista e nas batalhas do campo. Repentista, enfrentou o preconceito de recintos que até então só cabiam homens.
Maria começou no repente com 19 anos e hoje está com 69: "São 50 anos cantando repente, fazendo essa poesia e resistindo como mulher. Acabei me acostumando a enfrentar o sertão, os homens e a luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo”.
Margaridas indígenas
Airy Gavião veio de Marabá, uma das principais cidades do Pará (PA). "É uma grande dificuldade para chegar aqui. Dependendo da aldeia, são cinco dias de barco mais a viagem de ônibus”, conta. No entanto, Airy defende que a participação das mulheres indígenas deve ocorrer em todas as lutas das mulheres brasileiras.
"As indígenas sofrem com as consequências de tudo aquilo que aflige a mulher no campo. Por isso acho importante se inserir, fazer com que ouçam nossa voz, nossa cultura”, afirma.
Na Cidade das Margaridas, mulheres indígenas de todo o país se manifestaram. Povos indígenas sofrem com grandes empreendimentos, tais como a Usina de Belo Monte, no Pará, e a transposição do rio São Francisco. Tais impactos interferem no modo de viver dos índios.
Para Alexandra Pataxó, de Porto Seguro, Bahia, a luta pela terra é parte também da luta para a construção de uma vida melhor para as mulheres indígenas: "Então temos de superar as dificuldades e nos inserirmos mais na articulação das mulheres para colocarmos nossas necessidades”.
Em sua segunda marcha, Jomara Aracy, do povo Dessana, integrante da Articulação das Mulheres Brasileiras, frisa o papel transformador da mulher como essencial para um Brasil livre do capital. Para ela, só assim, num país de outra dimensão política e ideológica, é que as mulheres poderão ser livres de tudo aquilo que as oprime.
Margaridas contra grandes empreendimentos
A marcha trouxe também a Brasília a luta das mulheres contra os grandes empreendimentos. Rosa Pessoa é do Movimento de Mulheres de Altamira (PA). Ela e suas companheiras carregavam bandeiras contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. "Não há benefício nenhum com a usina, só coisas ruins para o nosso povo”, diz.
Em sua análise, Rosa avalia que além dos danos ao meio ambiente, povos indígenas, ribeirinhos e pescadores, Belo Monte atenta diretamente contra as mulheres. "Vemos um aumento grande de exploração sexual de mulheres e a tendência é piorar com o decorrer da construção da usina”, afirma.
Rosa avalia que não há desenvolvimento, mas retrocesso. Lembra do grande problema habitacional gerado apenas pelo fantasma da usina: a especulação imobiliária gerou o aumento de sem-tetos e de graves abismos sociais. Parte de Altamira será alagada e a outra ficará sob intenso caos social com o aumento populacional – estimado em 120 mil indivíduos.
"A Norte Energia não dá soluções ou cumpre as condicionantes. Não queremos a usina porque os impactos trarão grandes problemas. Estamos aqui contra Belo Monte”, encerra Rosa erguendo o mais alto que pode a bandeira símbolo do movimento contra a construção da usina.
O grito contra outro grande empreendimento, a transposição do rio São Francisco, partia de Cristina Nascimento através de um megafone. Ligada ao Fórum de Mulheres de Pernambuco, ela acredita "que a transposição afeta populações originárias que são arrancadas de suas terras como se arranca uma planta do chão pela raiz”.
Cristina defende que a questão se trata de desrespeitar a ancestralidade de indígenas e quilombolas, um crime irreparável que fortalece questões estruturantes do capital, tais como o racismo, o preconceito, o machismo, a compreensão patriarcal da sociedade.
"Porque estamos falando de um modelo estruturado. Por isso é central combater a transposição e reivindicar o direito a sustentabilidade”, explica. Na esteira, Cristina defende que está a luta das mulheres em mandar no próprio corpo e nos rumos da vida.
Ela faz parte do grupo feminista de tetro de rua Loucas de Pedra Lilás. Com sede em Recife, as meninas (jovens, adultas e idosas) atuam no combate ao machismo e na defesa do feminismo com peças criativas ligadas à educação e conscientização dos direitos humanos – e de prazer - da mulher. Já se apresentaram em países da América Latina e do mundo. Na Cidade das Margaridas e durante a marcha, o grupo realizou performances e esquetes teatrais além de carregar uma imensa margarida.
Margaridas resistentes
De bandeira em punho e pés firmes na marcha, Maria das Neves ou Maria das Águas, como é mais conhecida, procurava algum repórter para falar sobre sua vida, sobre as companheiras mortas, sobre como é o dia a dia das mulheres pescadoras artesanais do país. Queria gritar para além da marcha.
Maria das Águas vive em Lagoa do Carro, agreste de Pernambuco. Ao lado dela são mais cinco mil pescadoras artesanais no Nordeste. Juntas ajudam a abastecer em 70% o país de pescado, seja nos rios, lagos, barragens ou em alto mar. Maria aprendeu a pescar aos sete anos – está com 55, apesar de o RG dizer 52.
"Toda vida morei em Lagoa do Carro. O que aconteceu foi que construíram uma barragem e o lugar em que morávamos ficou alagado, inclusive onde minha mãe plantava. Para nos dar de comer ela aprendeu a pescar na lagoa da própria barragem e me ensinou”, conta.
O tempo passou, as barragens continuam a ser erguidas nos rincões de um Brasil escondido e Maria das Águas é hoje representante do Movimento Nacional dos Pescadores e Pescadoras – além de ser da Articulação das Mulheres Pescadoras.
Ela encontra na organização política e ideológica formas de combater os ataques que as mulheres pescadoras sofrem, apesar da morte espreitar as ações de resistência ao latifúndio que privatiza as águas amparado pelos grandes empreendimentos do governo. Na semana anterior a marcha, uma companheira de Maria foi assassinada na Paraíba.
"Latifundiários nos expulsam dos rios e as grandes empresas jogam nas águas produtos químicos que matam ou contaminam os peixes. A privatização das águas é tamanha que chegam a colocar cercas elétricas dentro dos rios para nós não entrarmos sob risco de morte”, indigna-se.
Maria das Águas afirma que os grandes empreendimentos são hoje os principais responsáveis pelos aterros nos mangues, causando graves desequilíbrios ambientais, além de grande parcela do esgoto que polui rios e praias.
"Meu sonho é o mesmo das mulheres de 1857, lá de Chicago, que foram assassinadas. Quero um mundo livre da opressão, com as águas limpas e sem latifúndio. Vim aqui para a marcha a troco dessa luta”, enfatiza.
Por essas horas a marcha já se acumulava nos jardins do Congresso Nacional. A cor lilás predominava num dia de céu de brigadeiro e margaridas levantadas da terra.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Roupas da Zara são fabricadas com mão de obra escrava
Em recente operação que fiscalizou oficinas subcontratadas de fabricante de roupas da Zara, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, foram libertadas de trabalho escravo contemporâneo em plena capital paulista
Por Bianca Pyl* e Maurício Hashizume
São Paulo (SP) - Nem uma, nem duas. Por três vezes, equipes de fiscalização trabalhista flagraram trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da badalada marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex.
Na mais recente operação que vasculhou subcontratadas de uma das principais "fornecedoras" da rede, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de apenas 14 anos, foram libertadas de escravidão contemporânea de duas oficinas - uma localizada no Centro da capital paulista e outra na Zona Norte.
Para sair da oficina que também era moradia, era preciso pedir autorização (Foto: Fernanda Forato) |
A investigação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) - que culminou na inspeção realizada no final de junho - se iniciou a partir de uma outra fiscalização realizada em Americana (SP), no interior, ainda em maio. Na ocasião, 52 trabalhadores foram encontrados em condições degradantes; parte do grupo costurava calças da Zara.
"Por se tratar de uma grande marca, que está no mundo todo, a ação se torna exemplar e educativa para todo o setor", coloca Giuliana Cassiano Orlandi, auditora fiscal que participou de todas as etapas da fiscalização. Foi a maior operação do Programa de Erradicação do Trabalho Escravo Urbano da SRTE/SP, desde que começou os trabalhos de rastreamento de cadeias produtivas a partir da criação do Pacto Contra a Precarização e Pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo - Cadeia Produtiva das Confecções.
A ação, complementa Giuliana, serve também para mostrar a proximidade da escravidão com pessoas comuns, por meio dos hábitos de consumo. "Mesmo um produto de qualidade, comprado no shopping center, pode ter sido feito por trabalhadores vítimas de trabalho escravo".
Roupa com etiqueta da marca, falta de espaço, riscos e banho frio (Fotos: FF, BP e SRTE/SP) |
Quem vê as blusas de tecidos finos e as calças da estação nas vitrines das lojas da Zara não imagina que, algumas delas, foram feitas em ambientes apertados, sem ventilação, sujos, com crianças circulando entre as máquinas de costura e a fiação elétrica toda exposta. Principalmente porque as peças custam caro. Por fora, as oficinas parecem residências, mas todas têm em comum as poucas janelas sempre fechadas e com tecidos escuros para impedir a visão do que acontece do lado de dentro das oficinas improvisadas.
As vítimas libertadas pela fiscalização foram aliciadas na Bolívia e no Peru, país de origem de apenas uma das costureiras encontradas. Em busca de melhores condições de vida, deixam os seus países em busca do "sonho brasileiro". Quando chegam aqui, geralmente têm que trabalhar inicialmente por meses, em longas jornadas, apenas para quitar os valores referentes ao custo de transporte para o Brasil. Durante a operação, auditores fiscais apreenderam dois cadernos com anotações de dívidas referentes à "passagem" e a "documentos", além de "vales" que faziam com que o empregado aumentasse ainda mais a sua dívida. Os cadernos mostram alguns dos salários recebidos pelos empregados: de R$ 274 a R$ 460, bem menos que o salário mínimo vigente no país, que é de R$ 545.
As oficinas de costura inspecionadas não respeitavam nenhuma norma referente à Saúde e Segurança do Trabalho. Além da sujeira, os trabalhadores conviviam com o perigo iminente de incêndio, que poderia tomar grandes proporções devido a quantidade de tecidos espalhados pelo chão e à ausência de janelas, além da falta de extintores de incêndio. Após um dia extenuante de trabalho, os costureiros, e seus filhos, ainda eram obrigados a tomar banho frio. Os chuveiros permaneciam desligados por conta da sobrecarga nas instalações elétricas, feitas sem nenhum cuidado, que aumentavam os riscos de incêndio.
As cadeiras nas quais os trabalhadores passavam sentados por mais de 12 horas diárias eram completamente improvisadas. Alguns colocavam espumas para torná-las mais confortáveis. As máquinas de costura não possuíam aterramento e tinham a correia toda exposta (foto acima). O descuido com o equipamento fundamental de qualquer confecção ameaçava especialmente as crianças, que circulavam pelo ambiente e poderiam ser gravemente feridas (dedos das mãos decepados ou até escalpelamento).
Para Giuliana, a superexploração dos empregados, que têm seus direitos laborais e previdenciários negados, tem o aumento das margens de lucro como motivação. "Com isso, há uma redução do preço dos produtos, caracterizando o dumping social, uma vantagem econômica indevida no contexto da competição no mercado, uma concorrência desleal".
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lavrou 48 autos de infração contra a Zara devido as irregularidades nas duas oficinas. Um dos autos se refere à discriminação étnica de indígenas quéchua e aimará. De acordo com a análise feita pelos auditores, restou claro que o tratamento dispensado aos indígenas era bem pior que ao dirigido aos não-indígenas.
"Observa-se com nitidez a atitude empresarial de discriminação. Todos os trabalhadores brasileiros encontrados trabalhando em qualquer um dos pontos da cadeia produtiva estavam devidamente registrados em CTPS [Carteira de Trabalho e Previdência Social], com jornadas de trabalho condizentes com a lei, e garantidos em seus direitos trabalhistas e previdenciários", destaca o relatório da fiscalização. "Por outro lado, os trabalhadores imigrantes indígenas encontram-se em situação de trabalho deplorável e indigno, em absoluta informalidade, jornadas extenuantes e meio ambiente de trabalho degradante".
Dignidade é subtraída por dívidas, degradância, longas jornadas e baixa remuneração (Foto: BP) |
A equipe de fiscalização foi composta por dois agentes da Polícia Federal (PF), integrantes do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, auditores da SRTE/SP e dirigente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco.
Blusas e vestidos
A primeira oficina vistoriada mantinha seis pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, em condições de trabalho escravo. No momento da fiscalização, os empregados finalizavam blusas da Coleção Primavera-Verão da Zara, na cor azul e laranja (fotos acima). Para cada peça feita, o dono da oficina recebia R$ 7. Os costureiros declararam que recebiam, em média, R$ 2 por peça costurada. No dia seguinte à ação, 27 de junho, a reportagem foi até uma loja da Zara na Zona Oeste de São Paulo (SP), e encontrou uma blusa semelhante, fabricada originalmente na Espanha, sendo vendida por R$ 139.
A oficina funcionava em um cômodo de uma casa pequena - na parte de cima de um sobrado. Seis máquinas de costura ocupavam uma pequena sala. Dois quartos abrigavam todos os trabalhadores, inclusive casais com filhos. O espaço era dividido por guarda-roupas e panos. No banheiro, não havia água banho quente, pois o chuveiro estava desligado para reduzir o consumo de energia elétrica, que era totalmente destinada à produção.
A adolescente de 14 anos tomava conta das duas crianças enquanto as mães trabalhavam. Ela ajudava também na limpeza da casa e no preparo das refeições. No Brasil desde 2010, não está estudando. Seu irmão juntou dinheiro e foi buscá-la na capital boliviana de La Paz.
A fiscalização lacrou a produção e apreendeu parte das peças, incluindo a peça piloto da marca Zara. As máquinas de costura também foram interditadas por não oferecerem segurança aos trabalhadores.
Prédio onde ficava oficina, condições degradantes, precariedades e etiquetas (Fotos: SRTE/SP, FF e BP) |
Da outra oficina localizada em movimentada avenida do Centro, foram resgatadas nove pessoas que produziam uma blusa feminina e vestidos para a mesma coleção Primavera-Verão da Zara.
A intermediária AHA (que também utilizava a razão social SIG Indústria e Comérico de Roupas Ltda.) pagava cerca de R$ 7 por cada peça para a dona da oficina, que repassava R$ 2 aos trabalhadores. Peça semelhante a que estava sendo confeccionada foi encontrada em loja da marca com o preço de venda de R$ 139.
Uma jovem de 20 anos, vinda do Peru, disse à reportagem que chegou a costurar 50 vestidos em um único dia. Em condições normais, estimou com Maria Susicléia Assis, do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, seria preciso um tempo muito maior para que a mesma quantidade da difícil peça de vestuário fosse toda costurada.
Há 19 anos no Brasil, a boliviana que era dona da oficina teve todos os seus oito filhos (entre 5 meses e 15 anos) nasceram aqui. Ela sonha em dar um futuro melhor aos rebentos, para que não tenham que trabalhar "nas máquinas, com costura". "Todo mundo na minha terra que vinha para o Brasil dizia que aqui era bom. E eu vim", contou a senhora.
Parte da produção foi apreendida, assim como as peças pilotos, que carregavam instruções da Zara de como confeccionar a peça de acordo com o padrão definido pela varejista multinacional. "Isso demonstra a subordinação das oficinas e da AHA em relação à Zara", realça Giuliana. A oficina e um dos quartos, onde dormiam dois trabalhadores e duas crianças, foram interditados. A fiação elétrica estava totalmente exposta e havia possibilidade de curto-circuito.
Os trabalhadores declararam trabalhar das 7h30 às 20h, com uma hora de almoço, de segunda à sexta-feira. Aos sábados, o trabalho seguia até às 13h. Um trabalhador chegou a relatar que há dias em que o trabalho se estende até às 22h.
O local funciona em um sobrado de dois andares (foto ao lado), com muitos cômodos. O maior deles, onde os trabalhadores passavam a maior parte do dia, acomodava as máquinas. Os cinco banheiros estavam muito sujos. Somente três possuíam chuveiros, mas todos também estavam desligados.
Um dos trabalhadores, irmão da dona da oficina, está no Brasil há sete anos e já possui os documentos e até CTPS. "Eu trabalho na costura desde que cheguei. Mas eu queria mesmo era trabalhar com música. Eu consegui comprar algum equipamento já".
Outro jovem, de 21 anos, disse que não gosta muito do trabalho porque é "cansativo". Ele recebe, em média, R$ 500 por mês. "Eu vou voltar para a Bolívia. Queria estudar Turismo e trabalhar com isso. A costura é só para sobreviver", projetou.
A Zara foi avisada do flagrante no momento da ação pelos auditores fiscais e convidada a ir até a oficina de costura, mas não compareceu.
No dia seguinte, compareceram à sede da SRTE/SP dois diretores, que não quiseram participar da reunião de exposição dos fatos,. Até o advogado da empresa foi embora sem ver as fotos da situação encontrada. Somente duas advogadas da AHA (que no início da reunião se apresentaram como enviadas dos donos das oficinas e até dos trabalhadores) participaram da reunião com os auditores. A empresa não providenciou sequer alimentação às vítimas, que ficou a cargo do sindicato da categoria.
Fluxograma
A intermediária na contratação das duas oficinas em que houve libertações é a AHA Indústria e Comércio de Roupas Ltda. No período de abril a junho deste ano, a produção de peças para a Zara chegou a 91% do total. A SRTE/SP descobriu que há 33 oficinas sem constituição formal, com empregados sem registros e sem recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) contratadas pela AHA para a executar a atividade de costura.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Agentes da CPT - PI participam do II Seminário Nacional sobre Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo.
II Seminário Nacional sobre Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo.
O enfrentamento ao Tráfico de Pessoas já é assumido por diversas entidades e cada vez mais juntamos forças para a erradicação do mesmo.
Com objetivo de compreender o panorama atual do tráfico de pessoas no Brasil, identificando problemas e as ações desenvolvidas, para fortalecer a ação pastoral frente a essa realidade no Brasil.
Participaram diversas entidades, dentre elas a Comissão Pastoral da Terra e Rede Um Grito Pela Vida. Foi um momento forte de aprofundamento da temática e articulação das entidades, que em parceria somam forças no enfrentamento e erradicação do tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo, retirada de órgãos e exploração sexual.
O secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, enfatizou que é preciso "lutar pela dignidade de nossos irmãos e nossas irmãs” em situação de vulnerabilidade social que são explorados/as pelas redes do tráfico de pessoas.
Na abertura do seminário, dom Enemézio Lazari, bispo de Balsas (MA) e membro da Comissão Episcopal para o serviço de caridade da Justiça e Paz da CNBB, falou sobre a importância de se promover a ação em favor das pessoas mais vulneráveis. "São homens, mulheres e crianças que são vendidos para enriquecer pessoas sem escrúpulos”, enfatizando a importância de realizar um trabalho em conjunto entre atores de diferentes organizações sociais ou religiosas no enfrentamento à rede organizada do tráfico humano.
Socialização das experiências do trabalho de prevenção e alternativas para combater o tráfico de pessoas e trabalho escravo.Experiência dos trabalhadores do Assentamento Nova Conquista - Monsenhor Gil, PI.
Rede um Grito Pela Vida - CRB
Grupos de trabalho da CNBB.
Mistica de abertura, Leitura do texto de Ez, 22 ss
Rompendo as correntes da escravidão
Situações que escravizam
Abertura do encontro.
Na abertura do seminário, dom Enemézio Lazari, bispo de Balsas (MA) e membro da Comissão Episcopal para o serviço de caridade da Justiça e Paz da CNBB, falou sobre a importância de se promover a ação em favor das pessoas mais vulneráveis. "São homens, mulheres e crianças que são vendidos para enriquecer pessoas sem escrúpulos”, enfatizando a importância de realizar um trabalho em conjunto entre atores de diferentes organizações sociais ou religiosas no enfrentamento à rede organizada do tráfico humano
terça-feira, 2 de agosto de 2011
12ª Romaria da Terra e Água no Piauí.
Memorial das romarias
A cidade toda acolheu os romeiros e romeiras
A beleza do ambiente encantou a todos e todas
A vida que pulsa...
Acolhendo Zé Vicente.
A história das romairas nasa dioceses
Memórial dos Martires da terra
As oficinas temáticas, os romeiros e romeiras participaram com muita concentração nas 5 oficinas.
Os grupos das oficinas saindo em caminhada para a praça de Campo Maior
Grande abraço do açude em Campo Maior
Momento de animação e acolhida das caravanas, abrindo o momento cultural e tribuna livre
Shwou emocionante de Zé Vicente.
A equipe de animação agita a multidão
Celebração eucaristica concluindo a romaria
A multidão participou com muita fé a cada momento